Como tudo começou

Certo dia, Gercy Volpato, em meados dos anos 1950 e já com seus 20 anos de idade, estava em casa, na zona rural de Cobiça (Cachoeiro de Itapemirim), quando encantou-se com uma música que começou a tocar durante um programa ao vivo na tradicional ZYL-9 Rádio Cachoeiro.

A imagem mostra um aparelho de rádio, no qual as irmãs Volpato ouviam Roberto Carlos, ainda criança, se apresentar na Rádio Cachoeiro.

Aparelho de rádio utilizado pelas irmãs Volpato para ouvirem os programas da Rádio Cachoeiro, onde Roberto Carlos se apresentava nos primeiros anos de sua carreira, ainda criança. O aparelho funciona até hoje. Foto: Luan Volpato.

A música, “Amor y más amor”, um bolero de Bobby Capó, era belamente interpretada por um garotinho da cidade, então com seus 9 anos de idade: Roberto Carlos Braga. O sucesso dele foi tanto que ele passou a se apresentar na rádio todos os domingos.

Olha que voz a desse menino! ― disse Gercy para as irmãs.

E, a partir daí, começa a história que você verá retratada ao longo deste site, cuidadosamente feito para contar trechos das histórias incríveis das irmãs Volpato.

As idas a pé à Rádio Cachoeiro

Gercy foi a primeira irmã a se encantar com a voz de Roberto Carlos.

― Pedi ao meu pai no sábado se eu podia ver de perto o cantor lá na Rádio e ele deixou. Aí convidava uma irmã, ela não queria ir comigo. Convidava outra, também não queria. Até que convenci Lôra (apelido de Maria Leonôr) de me acompanhar ―, recordou-se Gercy.

Então, Maria Leonôr, juntou-se à ela, e, juntas, passaram a frequentar a sede da Rádio Cachoeiro aos domingos. Elas saíam da roça a pé rumo à cidade.

― Íamos a pé saindo de Cobiça para Cachoeiro seguindo a linha do trem. Saíamos às 6 horas da manhã e levávamos duas horas para chegarmos à rádio.

A imagem mostra a estação ferroviária de Cobiça, zona rural de Cachoeiro de Itapemirim, nos dias atuais.

Foto atual da antiga estação ferroviária de Cobiça, zona rural de Cachoeiro de Itapemirim. Nos anos 1950, Gercy e Maria Leonôr percorriam duas horas a pé pela linha do trem para chegarem a Cachoeiro de Itapemirim e assistirem Roberto Carlos se apresentar na Rádio Cachoeiro. Foto: Luan Volpato.

Desde a primeira vez que as irmãs – então adolescentes – viram o pequeno Roberto se apresentar na rádio, já iniciaram contato com ele. Gercy conta que por duas vezes os três, juntamente com uma prima das irmãs, chegaram a assistir partidas de futebol juntos no estádio da cidade.

A primeira cartinha enviada ao cantor

Um tempo depois, quando Roberto Carlos não mais apresentava o programa infantil na Rádio Cachoeiro, mas outro programa no mesmo local, Gercy teve a ideia de escrever a primeira cartinha para que o cantor lesse ao vivo.

Eu acho que foi a primeira cartinha que ele recebeu durante esse programa, então ele ficou muito feliz. Ele leu a carta no ar, não me lembro qual foi a música que eu pedi, mas ele tocou a música também. Eu estava em casa, em pé, na beira do rádio escutando e pulei de alegria ― contou Gercy.

A primeira viagem ao Rio de Janeiro (1963)

A imagem mostra as irmãs Gercy e Maria Leonôr ainda jovens.

Gercy Volpato (à esquerda) e Maria Leonôr Volpato (à direita). Foto: Arquivo pessoal de Gercy Volpato.

Alguns anos se passaram quando, em 1955, surgiu a notícia: Roberto Carlos, então com 14 anos de idade, se mudaria para o Rio de Janeiro. As irmãs ficaram tristes, pois não sabiam mais se um dia conseguiriam vê-lo novamente, pois o cantor já havia se tornado um ídolo para elas.

― Aí começamos a pedir papai para deixar nós irmos ao Rio de Janeiro. Ele não queria deixar porque nunca tínhamos ido. Até que uma tia nossa que mora lá ajudou escrevendo um bilhetinho e mandou ao papai pedindo a permissão dele para que nós viajássemos. Aí ele deixou e começamos a nos organizar. Compramos até roupas novas ― recorda-se Gercy.

Então, em 1963, Gercy e Maria Leonôr seguem de Trem Cacique rumo ao Rio de Janeiro para permanecerem por dois meses conhecendo a cidade e participando de programas de auditório nas rádios e emissoras de televisão, sempre com um único objetivo: ver Roberto Carlos se apresentar.

Uma prima nossa explicava como pegávamos o ônibus, os pontos que devíamos descer e todas as informações para que a gente conseguisse chegar aos locais. Na época, a Globo ficava na Avenida Presidente Vargas ― explicou Gercy.

O primeiro programa que as irmãs assistiram foi o do Chacrinha, na Rádio Globo (naquela época, os programas de rádio também tinham auditório).

Chegamos, nos apresentamos ao Chacrinha, e entramos no auditório. Já tinha bastante moça lá para assistir ao programa, já que o Roberto Carlos ia se apresentar. Lôra e eu sentamos e ficamos quietinhas, até que ele chegou, nos reconheceu e já veio para o nosso lado. As moças gritavam ‘Ah, elas são conterrâneas dele!’. Foi muito legal! ― recordou-se Gercy.

Nesse dia, as irmãs conseguiram o primeiro autógrafo do cantor (que você pode ver na seção Curiosidades). Aliás, foi nesse mesmo dia que as irmãs Volpato viveram uma situação inusitada envolvendo um táxi e Roberto Carlos.

― Quando saímos do programa, o cantor Luiz Wanderley convidou a gente para irmos à TV Continental, pois o Roberto Carlos seria convidado dele nesse programa, já que o Luiz Wanderley era o apresentador.

As irmãs, então, conseguiram chegar à TV Continental para assistirem ao programa. Elas chegaram a levar um primo de 10 anos de idade, mas, impedido de entrar no auditório do programa (por ser menor de idade), Luiz Wanderley conseguiu colocar o garoto próximo ao auditório para que ele conseguisse assistir ao programa e as irmãs conseguissem olhá-lo de dentro do auditório.

― Quando estávamos saindo do programa e indo para o ponto de ônibus, o Luiz Wanderley chega e fala: ‘Vamos de táxi com a gente, Roberto vai também!’. Respondemos que não, que iríamos de ônibus. Ele insistiu tanto que entramos no táxi ―, recorda-se Gercy, que continua:

― Quando chegou na Avenida Presidente Vargas, ele desceu do táxi e falou: ‘Vocês paguem a corrida’. Aí, perguntamos ao Roberto Carlos onde ele saltaria, e ele respondeu que desceria no bairro São Cristóvão, e nós também desceríamos lá. Mas, antes, Roberto olhou para nós duas e falou: ‘E agora? Eu não tenho dinheiro!’. Ainda bem que Lôra e eu tínhamos um pouco de dinheiro e conseguimos pagar a corrida. Conversamos um pouco, ele foi para a casa da tia dele e nós fomos para a casa da nossa tia ―, contou Gercy.

Elas nunca mais viram Luiz Wanderley.

A imagem mostra uma foto autografada do cantor e apresentador Luiz Wanderley à Gercy Volpato.

Foto autografada do cantor e apresentador Luiz Wanderlei à Gercy Volpato. Foto: Reprodução / Arquivo pessoal de Gercy Volpato.

A segunda viagem ao Rio de Janeiro (1965)

Dois anos após a primeira ida ao Rio de Janeiro, as irmãs Volpato novamente juntaram dinheiro e partiram para a capital carioca. Dessa vez, foi uma estadia um pouco maior, que durou três meses.

As irmãs já eram conhecidas e queridas pelos apresentadores, cantores e pela equipe de produção das rádios e das emissoras de televisão, e, por isso, tiveram a oportunidade de conhecer vários artistas e cantores de rádio – como você pode ver na seção Curiosidades deste acervo.

Foi nessa época que começaram as idas das irmãs à Rádio Nacional. Durante um dos programas de estúdio de Jonas Garret, elas puderam prestigiar um grande encontro entre três cachoeirenses: Roberto Carlos, Raul Sampaio e Carlos Imperial.

― Roberto Carlos reconheceu a gente, mesmo dois anos depois dele ter visto a gente pela última vez. Entramos, sentamos, e, então, chegaram, Raul Sampaio e Carlos Imperial. Aí o Jonas Garret falou: ‘Poxa, que coincidência! Os capixabas se encontraram!’. Foi muito legal. Nós duas ainda não conhecíamos o Raul e o Carlos Imperial ―, recorda-se Gercy.

Em outra tarde, as irmãs Volpato foram à Rádio Mayrink Veiga e lá encontraram um rapaz que trabalhava na gravadora CBS (atual Sony Music) que conhecia as irmãs. Ele estava no telefone com a dona Laura, a mãe de Roberto Carlos.

― Ele disse: ‘Vocês querem falar com ela?’. Aí ele passou o telefone para a gente, falamos com ela e depois a dona Laura passou o telefone para o sr. Robertino (pai de Roberto Carlos). Ele nos convidou para conhecermos a casa deles no dia seguinte e combinou de ir buscar a gente ―, contou Gercy.

Só que um desagradável imprevisto aconteceu: no dia combinado, Gercy amanheceu com uma terrível dor de cabeça.

― Eu levantava a cabeça e não tinha nem como me levantar. Lôra ficou desesperada: ‘Vêto (era o meu apelido), levanta para a gente ir à casa da dona Laura!’. Aí chegou a tarde e eu ainda estava com dor de cabeça. Lôra ligou para dona Laura, que perguntou o motivo de não termos ido. Então, ela chamou para irmos a um programa na TV Rio, que o Roberto cantaria lá antes de fazer uma viagem ao exterior.

Então, Gercy levanta, toma um comprimido, as irmãs se arrumam e seguem em direção à TV Rio. Chegando lá, elas conheceram vários cantores, como o Moacyr Franco.

― Quando o programa acabou, nós saímos e ficamos na porta. Roberto veio, nos cumprimentou e aí estávamos com um exemplar da Revista do Rádio que tinha ele na capa. Ele autografou. Foi o segundo e último autógrafo que temos dele ― recorda-se Gercy.

Veja esse e o primeiro autógrafo na seção Curiosidades.

Shows em Cachoeiro de Itapemirim

As irmãs Volpato não retornaram mais ao Rio de Janeiro e só tiveram a oportunidade de ver Roberto Carlos durante as apresentações do cantor em Cachoeiro de Itapemirim.

A primeira delas foi em 1966, um ano após a viagem das irmãs à capital carioca, quando o Rei se apresentou no Cine Teatro Broadway, que funcionava no centro da cidade. Foi nessa ocasião que as irmãs tiraram a primeira foto com o cantor, que você pode ver na sessão Curiosidades.

Quando acabou o show, nós fomos ao camarim e a porta estava aberta. Aí um rapaz veio e encostou a porta para não entrarmos, mas Roberto nos viu e pediu ao rapaz para abrir a porta para que entrássemos. Aí entramos, conversamos e ele disse: ‘Olha, eu vou lá na Rádio Cachoeiro dar uma entrevista, mas eu vou despistar e passar pelo Anacleto Ramos e vocês vão com o meu pai para lá. E foi lá na Rádio Cachoeiro que tiramos essa primeira foto ― recorda-se Gercy.

O segundo show foi em 1967, na Praça Jerônimo Monteiro, durante o retorno dele à cidade natal para receber o título de Cachoeirense Ausente – homenagem tradicional da cidade. Na ocasião, Gercy e Maria Leonôr apenas assistiram ao show e não tiveram a oportunidade de conversar com o Rei.

O terceiro show de Roberto Carlos em Cachoeiro de Itapemirim ocorreu quase 20 anos depois, no dia 12 de junho de 1983, no Estádio Sumaré.

Quatro anos depois, em junho de 1987, ocorreu o quarto show. Nele, as irmãs também foram ao camarim, tiraram a segunda foto com o cantor, e, inclusive, entregaram a ele uma cópia da primeira foto tirada no show de 1966 (veja a foto na seção Curiosidades).

Quatro anos depois, já em 1991, o Rei retorna para um show no Ginásio de Esportes Nello Vola Borelli, e, em 1995, as irmãs Volpato prestigiam o show de Roberto Carlos no Estádio Sumaré.

Maria Leonôr faleceu em 13 de fevereiro de 2008, aos 71 anos de idade, e, a partir daí, Gercy segue sua rotina na zona rural de Cobiça, mantendo o acervo montado junto à sua irmã e aumentando a vasta coleção de discos, revistas e recortes de jornal.

A imagem mostra Gercy Volpato organizando quadros com fotos de Roberto Carlos em uma parede de sua casa.

Gercy Volpato em 2019, prestes a completar 90 anos de idade, organiza os quadros na sala especial em sua casa, em homenagem ao seu ídolo Roberto Carlos. Foto: Luan Volpato.

Em 2009, Gercy prestigiou o tão aguardado show de Roberto Carlos no Estádio Sumaré, após um hiato de 14 anos sem apresentações na cidade.

As imagens mostram Gercy Volpato sendo entrevistada por dois repórteres durante o show de Roberto Carlos em Cachoeiro, no ano de 2009. As imagens mostram Gercy Volpato sendo entrevistada por dois repórteres durante o show de Roberto Carlos em Cachoeiro, no ano de 2009.

Gercy Volpato, em 2009, sendo entrevistada pela repórter Camila Torres (TV Gazeta Sul) e pelo repórter Paulo Mário Martins (Globonews), durante o show de Roberto Carlos no Estádio Sumaré, em Cachoeiro de Itapemirim. Foto: Arquivo pessoal

Nessa ocasião, Gercy e um sobrinho chegaram a ir à porta do Hotel San Karlo, na Avenida Beira Rio, onde o cantor estava hospedado. Havia uma multidão de fãs do cantor, e, infelizmente, o segurança barrou a entrada de Gercy e de outras pessoas que conheciam pessoalmente Roberto Carlos.

A última vez que Gercy esteve com seu ídolo foi no camarim do show de 2016, também no Estádio Sumaré. Foi aí que a primeira fã de Roberto Carlos tirou sua foto mais recente com seu ídolo (veja na seção Curiosidades).

Confira, agora, o acervo completo que as irmãs Volpato construíram ao longo de todos esses anos de amor e dedicação ao ídolo Roberto Carlos. Certamente as fotos, reportagens, objetos e discos farão você também viajar no tempo e se encantar com essa parte especial da nossa cultura brasileira.

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